O Grito Silencioso: Como a Desconexão Corpo-Mente Alimenta as Dores Recorrentes Que Você Insiste em Ignorar
- Lelah Monteiro
- há 4 dias
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Vamos encarar a realidade, sem rodeios: quantas de vocês já se pegaram ignorando o aviso do seu corpo, minimizando uma dor persistente, empurrando um cansaço avassalador para debaixo do tapete?
A gente vive em um ritmo insano, com mil demandas, e somos ensinadas a ser fortes, a dar conta de tudo. Mas essa "força" muitas vezes se traduz em uma perigosa desconexão entre nossa mente e nosso corpo. E é exatamente aí que mora o perigo, especialmente para nós, mulheres. Porque quando a mente ignora o corpo, o corpo grita. E geralmente, ele grita através de dores recorrentes que a gente insiste em normalizar.
A História Sem Fim: Mulheres e a Dor Ignorada
É uma narrativa antiga e cansativa: mulheres sentem dor, procuram ajuda e são frequentemente subestimadas, ouvem que é "psicológico", "coisa da idade", "estresse", ou pior, "frescura".
Quantas de vocês já sentiram:
Dores de cabeça e enxaquecas que viraram parte da paisagem?
Desconforto intestinal crônico (inchaço, prisão de ventre, diarreia) que os médicos não conseguem diagnosticar?
Cansaço extremo que nenhum descanso parece curar?
Cólicas menstruais incapacitantes que são tratadas como algo "normal" da nossa natureza feminina?
Dor durante o sexo (dispareunia) que você aceita como "parte do pacote" da intimidade?
Aquela sensação geral de que algo não está certo, mas que você não consegue identificar?
Essa lista é apenas a ponta do iceberg. A verdade é que somos condicionadas a suportar. E essa capacidade de suportar, tão elogiada, acaba nos afastando da escuta mais importante: a do nosso próprio corpo.
Mente x Corpo: Uma Batalha Que Ninguém Vence
A nossa sociedade supervaloriza a mente: o intelecto, a produtividade, a capacidade de raciocínio. O corpo, por sua vez, é frequentemente relegado a um papel secundário, um mero "veículo" que precisa ser controlado, moldado, e que só ganha nossa atenção quando "quebra".
Essa divisão cria uma desconexão profunda. Nossa mente vive no futuro (preocupações, planejamentos) ou no passado (arrependimentos, traumas), enquanto o corpo está sempre no presente, enviando sinais. Quando ignoramos esses sinais, o corpo não desiste. Ele aumenta o volume. E é aí que os desconfortos se transformam em dores persistentes.
O que acontece quando você está desconectada:
O Estresse Somatiza: A ansiedade do dia a dia, a pressão por perfeição, os conflitos não resolvidos – tudo isso se acumula. O corpo reage com tensão muscular, inflamação, problemas digestivos, desregulação hormonal.
As Emoções Se Aninham: Medos, tristezas, raivas não expressas ficam presas no corpo, criando bloqueios energéticos e físicos. É como se cada emoção negativa que você engole virasse um nó em alguma parte do seu corpo.
A Autopercepção Desaparece: Você perde a capacidade de identificar o que realmente te nutre, te relaxa, te dá prazer. Começa a se alimentar mal, a dormir pouco, a negligenciar o autocuidado, porque já não "sente" as consequências imediatas.
O Que a Dor Está Tentando Te Dizer?
A dor, meus caros, não é inimiga. Ela é uma mensageira persistente. Quando você sente uma dor recorrente, não é apenas um problema físico. É o seu corpo implorando para que você olhe para algo mais profundo.
Pode ser:
Exaustão Profunda: Você está sobrecarregada, esgotada. Suas dores são um pedido de descanso, de limites, de tempo para si mesma.
Estresse e Ansiedade: Sua mente está em overdrive, e o corpo está respondendo à ameaça constante (mesmo que imaginária) com tensão crônica.
Traumas Emocionais Não Processados: Feridas antigas, abusos, perdas – quando não são elaboradas, o corpo as guarda e manifesta como dores inexplicáveis.
Desequilíbrio Hormonal: Questões como endometriose, SOP, disfunção da tireoide ou a própria menopausa podem ter um impacto devastador, e muitas vezes subestimado, no seu bem-estar físico e mental.
Falta de Conexão com o Prazer: Se você não se sente conectada ao seu corpo, é difícil sentir prazer, seja ele sexual ou em outras áreas da vida. A dor pode ser um sinal de que você está desconectada de sua própria vitalidade.
Pare de Ser Heroína da Dor: Reconstrua a Ponte Entre Você e Você Mesma
A boa notícia é que você tem o poder de mudar essa narrativa. Não é sua culpa que te ensinaram a ignorar seus sinais, mas é sua responsabilidade começar a ouvi-los agora.
Sua Dor é Válida. Ponto Final. Pare de minimizá-la, de justificá-la. Seu corpo está te dando uma informação importante.
Torne-se uma Observadora Atenta: Comece a perceber quando a dor aparece. Há algum padrão? Alguma situação, emoção ou alimento que a desencadeia? Anote. Isso é ouro.
Movimente-se com Consciência: Não se trata de "malhar" para ficar com o corpo "perfeito". É sobre sentir seu corpo em movimento. Dance, alongue, caminhe, nade. O que seu corpo pede para se sentir vivo e fluindo?
Respire! A respiração é a ponte mais direta entre corpo e mente. Use-a para acalmar seu sistema nervoso, para se ancorar no presente. Quando a dor vier, respire através dela.
Priorize o Prazer e o Autocuidado: Sim, prazer! Seja ele um bom livro, um banho demorado, uma refeição saborosa, ou uma masturbação consciente. O prazer é um antídoto poderoso para a dor e uma forma de se reconectar com sua vitalidade.
Estabeleça Limites Ferrenhos: Dizer "não" a compromissos excessivos, a pessoas que te drenam, a autoexigências impossíveis, é dizer "sim" à sua saúde.
Busque Ajuda QUALIFICADA e INTEGRATIVA: Se você tem dores recorrentes, procure médicos que te ouçam, que investiguem de forma profunda. Não se contente com um diagnóstico superficial. Além disso, considere abordagens como fisioterapia, osteopatia, acupuntura, terapia corporal, nutrição funcional e, fundamentalmente, terapia psicológica. Muitas vezes, a cura da dor física passa pela cura emocional e mental.
Você não precisa viver com dor. Seu corpo não foi feito para sofrer. Ele foi feito para sentir, para se mover, para experimentar prazer, e para ser um parceiro incrível na sua jornada. Pare de lutar contra ele. Comece a ouvi-lo. A cura começa quando a conexão é restabelecida.
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